Primeiramente, o treinamento para mulheres que sofrem ou sofreram com câncer de mama tem como objetivo primordial a recuperação emocional e psicológica, não apenas a evolução física simples e crua.

Trabalho psicológico

Eu poderia “arrotar” um monte de protocolos para ganhos de força, resistência ou melhora da gordura corporal para mulheres com câncer, mas isso é totalmente irrelevante perto das maravilhas emocionais e psicológicas que o fato de ser uma pessoa fisicamente ativa oferece.

Todas as mulheres que passaram por esta doença sabem o quão desgastante é, fisicamente e mentalmente, para ela e para todos aqueles que as amam e convivem diariamente. Realmente é algo que não se deseja a ninguém. Porém, dentre algumas maneiras de amenizar os impactos desta patologia na mulher, na família e nas relações sociais e trabalho, a prática do treinamento físico tem papel protagonista na recuperação para a vida normal.

Como começar o treinamento?

Levantamento de dados a respeito de histórico desportivo, se já possui experiência ou não no treinamento, dores ou lesões articulares e musculares, são figurinhas carimbadas e devem ser realizados com todos, não importando que se tenha câncer, outras patologias ou que nada registrado se tenha. Porém, algumas peculiaridades do tratamento do câncer devem ser levadas em consideração antes de iniciar um programa de treino:

  1. Estado emocional;
  2. Qual o tratamento que está sendo realizado;
  3. Quais os efeitos colaterais deste tratamento;
  4. Quais os efeitos colaterais que o câncer está causando;
  5. Quais as expectativas a respeito do treinamento físico.

Após estes levantamentos, é fundamental estar bem conectado com os estudos publicados a respeito de questões específicas de mulheres com câncer (levando em conta que ganho de força, resistência muscular e melhora da composição corporal são efeitos que irão acontecer, tenha a mulher câncer ou não):

  1. Efeito do Exercício no Linfedema: Linfedema é o acúmulo de fluídos corporais caracterizado pelo inchaço na mão, braços e peito. Este problema faz com que muitas mulheres tenham medo de realizarem atividade física por receio de ficarem com o braço inchado e isso afetar na sua autoestima e gerar impacto em suas relações amorosas e o que faz também com que muitos médicos, por precaução, prefiram orientar que evitem levantar pesos. Diversos estudos realizados mostram que o treinamento de força e o treinamento aeróbio não promovem o desenvolvimento de linfedema nem geram qualquer tipo de alteração no perímetro do braço, logo, o treinamento de membros superiores não causa nem pioram o linfedema em mulheres pós tratamento de câncer.
  2. Efeito do Exercício no Sistema Imune: O tratamento do câncer, em especial a quimioterapia, diminui as defesas naturais do corpo por suprimir o sistema imune. Isso faz com que muitas mulheres interrompam o treinamento ou não iniciem por receio de ter um impacto negativo ou por orientação médica. Recentemente, três estudos trouxeram resultados que o treinamento físico pode induzir o aumento da atividade das células NK (Natural Killer), que possuem uma alta ação antitumoral, melhorando assim a resposta imune ao câncer.
  3. Efeito do Exercício no Cansaço: O cansaço é um dos efeitos colaterais mais relatados por pacientes em tratamento de câncer. Estudos revelam que o treinamento físico, mesmo para aquelas mulheres que se encontram no tratamento quimioterápico, possuem uma resposta positiva em relação a melhora da fadiga.
  4. Efeito do Exercício na Qualidade de Vida: A diminuição da qualidade de vida em mulheres com câncer de mama é altíssima. Esse é um dos fatores que mais devem ser combatidos durante o tratamento pois uma mulher motivada e disposta tem mais possibilidades de superar a doença. O treinamento físico tem papel fundamental nesse processo. Estudos mostram que, com a prática de atividade física, a mulher pode ter benefícios relacionados ao aumento da autoestima, diminuição de dores, vitalidade, aspecto social, saúde mental e emocional.
  5. Efeito do Exercício na Prevenção do Câncer de Mama: O ditado “é melhor prevenir do que remediar” só é levado a sério quando passamos por momentos de dificuldade na vida e pensamos: “ah, se eu tivesse me cuidado”. Pois bem, seguem alguns dados bem interessantes para incentivar você a se cuidar mais a partir de hoje:  mulheres com nível moderado de aptidão física tem 22% menos chances de morrer por qualquer causa; Quando falamos especificamente do Câncer de Mama, este número se torna ainda mais impressionante; Mulheres que possuem um nível moderado de aptidão física tem 40% a menos de chance de desenvolver este tumor; Se a mulher tiver um nível alto de aptidão física este número sobe para 55% a menos de chance de desenvolver o câncer de mama.

Naturalmente que o treinamento físico deverá respeitar os limites físicos, estado emocional e psicológico.