Você sente dor e toma remédio. Passa. Até quando? Você marca consulta com um médico e, como remédio, ele te manda para academia pra fazer exercícios para fortalecer. E aí bate o desânimo: fazer exercícios, encontrar com pessoas saradas, lindas, bem resolvidas. Quem disse?

Tenho recebido diversas pessoas com quadro de dor. Nunca antes “na história desse mundo”, viu-se tantas pessoas procurando fazer exercícios não mais por estética, mas para se livrar de dor. Dor no ombro, no pescoço, no joelho, nas costas e na tão rainha de todas as dores: a dor lombar. Quem nunca?

Horas sentados, dias a fios nas mesmas posturas corporais, você acha mesmo que o corpo não vai reclamar? Quem é que gosta de ficar fazendo as mesmas coisas dos mesmos jeitos? Se você não gosta, o corpo também não! E ele fala. E quando não escutamos, ele grita. Grita por meio da dor. A dor é a manifestação maior de que algo não vai bem. E ainda bem que ela existe, pois sem ela não prolongaríamos a vida.

E há quem se acostume a sentir dor, continuamente, e ache normal. E aí, uma charge do Ziraldo que li certa vez numa das folhas do legendário “O Pasquim” (Antologia, volume 1: 1969-1971) me vem à mente. “Só dói quando eu Rio”. A frase, de inúmeros efeitos metafóricos, refere ao retrato debochado que o cartunista escreveu no período dos “Anos de Chumbo” no Brasil. Incomodado, partiu para o combate às dores, no caso, do corpo social, com sua ferramenta de humor. Aquela dor não foi tida como normal. Da mesma forma, as dores do nosso próprio corpo também não deve ser tida como normal caso ela seja insistente e venha nos adoecer.

Sei que pra quem não gosta da idéia de fazer exercícios é, por vezes, mais “fácil” aceitar a dor e pronto. É preciso combater, de alguma forma, a dor que insiste. Importante evitar de que ela venha ocupar outras regiões do corpo, afetar mais áreas e te levar a nocault, tirando sua alegria de viver. Se incomodar com isso e partir para o combate, com suas ferramentas, seja elas quais forem, é o caminho de escrever histórias sem dor.

É preciso buscar formas de vivermos bem. Tomar água, sol, se alimentar, se movimentar e dormir são elementos básicos da vida. Se negligenciamos isso, a dor será um sinalizador de que a saúde precisa de cuidados. Relutar em mudar hábitos que não contemple cuidar do básico da vida só vai piorar o quadro de dor. A vida vale mais a pena se soubermos acolher e cuidar da dor. Só dói se descuidarmos.