Mês: junho 2020

OBESIDADE E DOENÇAS CRÔNICAS! QUAL SUA RELAÇÃO?

Olá pessoal, hoje nós finalizaremos o nosso assunto sobre como o exercício físico pode exercer um papel de destaque no combate a COVID-19. Relembrando o que já foi falado até o momento, foi feita uma relação sobre como o exercício físico pode reforçar o nosso sistema imune, prevenir e tratar doenças cardiovasculares como hipertensão e diabetes, além das doenças psicológicas, como a depressão e a ansiedade. Hoje é a vez da obesidade, talvez a grande desencadeadora de todos esses problemas.

A obesidade é uma doença caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal e normalmente está associada a problemas de saúde. Consequentemente, ela se constitui como fator de risco para aquisição de várias doenças crônicas degenerativas, dentre as quais podemos citar: câncer, hipertensão arterial, doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, entre outras. Existem diversas causas para o surgimento da obesidade, como: predisposição genética, má alimentação, alterações endócrinas e inatividade física.

Segundo o manual do American College of Sports Medicine (ACSM, 2011), o indivíduo é considerado com sobrepeso quando seu índice de massa corporal (IMC) se iguala ou excede os 25 kg/m². Já as classificações para o fator de risco de obesidade são IMC maior ou igual a 30 kg/m² ou circunferência abdominal > 102 cm para os homens e > 88 cm para as mulheres.

Conforme dados divulgados pelo Ministério da Saúde em 2018, um levantamento da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL), realizado entre os anos de 2006 a 2018, apontou que o número de brasileiros com obesidade cresceu 67,3% nesses últimos 13 anos, saindo de 11,8% em 2006 para 19,8% em 2018 (um número assustador de mais de 41 milhões de pessoas, somente aqui no Brasil). A Vigitel também registrou crescimento considerável de excesso de peso entre a população brasileira. No Brasil, mais da metade da população, 55,7% tem excesso de peso. Um aumento de 30,8% quando comparado com percentual de 42,6% no ano de 2006. Imaginem como devem estar esses números após quase 4 meses de quarentena? Dá até medo de imaginar.

A Obesidade é considerada uma doença universal de prevalência crescente, assumindo atualmente um caráter epidemiológico, como o principal problema de saúde pública na sociedade moderna. Hoje, admite-se que a mesma é uma inflamação sistêmica crônica de baixa intensidade e está associada a uma diversidade de doenças crônicas, além ser caracterizada por um aumento de duas ou três vezes na concentração de citocinas inflamatórias, como por exemplo: fator de necrose tumoral-alfa (TNF-α) e interleucina-6 (IL-6), além da proteína C reativa (CRP), que é uma famosa marcadora de processo inflamatório. Essas moléculas, agindo de modo combinado, interferem na ação da insulina (produzindo resistência à insulina) e isso é um aspecto associado ao diabetes de tipo 2, doença cardiovascular e síndrome metabólica.

Como fisiologista do exercício, posso lhes dizer que nós estudamos o modo como os tecidos e órgãos funcionam para manter a homeostasia, e tentamos descobrir a fonte de um problema quando a mesma é perdida. Um exemplo eficiente de falha em manter a homeostase é a hipertensão, um problema que afeta 24,7 % da população brasileira, segundo dados da vigitel. É interessante notar que, dificilmente a hipertensão ocorre de forma isolada. Não é incomum que um indivíduo hipertenso também apresente múltiplas anormalidades metabólicas, tais como: Obesidade (em especial a abdominal), resistência a insulina e dislipidemia (níveis anormais de triglicerídeos e outros lipídios).

O fato dessas anormalidades ocorrerem com frequência em grupo sugere a existência de uma causa subjacente comum, que talvez nos permita entender melhor os processos patológicos associados a hipertensão. A coexistência da resistência à insulina, dislipidemia e hipertensão foi denominada síndrome X, e aqueles que acrescentam a obesidade ao modelo a chamam de “quarteto mortal”. Entretanto, a denominação atualmente preferida é “síndrome metabólica”.

Existem diversas teorias tentando explicar possíveis conexões hipotéticas entre as anormalidades listadas. Vou tentar explicar de forma simples e didática sobre o modelo que eu mais acredito. O foco central recai sobre a obesidade, que por sua vez causa resistência à insulina (diabetes tipo 2). Em resposta a essa resistência, o pâncreas secreta mais insulina levando a uma condição de hiperinsulinemia. Os níveis aumentados de insulina podem:
– Aumentar a atividade do sistema nervoso simpático (SNS), causando elevação dos níveis de adrenalina (A) e noradrenalina (NA) que, por sua vez, podem aumentar a frequência cardíaca, o volume sistólico e a pressão arterial. Os níveis elevados de A e NA também podem interferir na liberação de insulina pelo pâncreas e na captação de glicose junto aos tecidos, agravando ainda mais o problema.
– Aumentar a retenção de sódio e água, com consequente aumento do volume plasmático e de pressão arterial;
– Intensificar a proliferação das células de músculo liso junto aos vasos sanguíneos, que pode acarretar o aumento da resistência ao fluxo sanguíneo trazendo problemas cardiovasculares.
Dessa forma, diversos estudos são desenvolvidos no âmbito da Educação Física com o objetivo de auxiliar na perda de peso da população obesa, uma vez que a prática regular de exercício físico auxilia no processo de emagrecimento corporal, na medida em que ajuda a determinar um balanço energético negativo, potencializando ainda mais os benefícios de uma dieta balanceada.

Não há dúvidas de que a participação regular em programa de exercício físico diminui o risco de desenvolvimento de muitas doenças crônicas. Com relação à inflamação sistêmica, as evidências em geral são positivas. Estudos longitudinais prospectivos mostram de modo convincente que níveis mais altos de atividade física e/ou condicionamento cardiorrespiratório estão associados a níveis mais baixos de inflamação sistêmica, que por sua vez, está associada a muitas doenças crônicas.

Portanto, a evidência nítida é a de que a prática regular de exercícios, o consumo de uma dieta saudável e a manutenção de um peso saudável são bastante significativos na prevenção dessas doenças crônicas. Lembrando sempre que essas ações são também as principais intervenções não farmacológicas empregadas no tratamento de indivíduos com doenças crônicas, logo, as mais saudáveis, não possuindo contraindicações.

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VAMOS CONVERSAR SOBRE ANSIEDADE E DEPRESSÃO NO MOMENTO ATUAL QUE VIVEMOS?

O cotidiano em tempos de pandemia, proporciona para todos alguns graus de ansiedade e cada pessoa reage de diferentes formas à uma situação específica. Alguns indivíduos, possuem dificuldades ao enfrentarem problemas, ainda mais em situações de quarentena, e isso pode desencadear psicopatologias, como a depressão. Com isso, um tratamento não farmacológico para atenuar essas respostas do organismo é o exercício físico. Além de melhorar os níveis de serotonina, blinda o corpo de doenças metabólicas, como hipertensão e diabetes, que associadas com uma psicopatologia se tornam extremamente nocivas.
O nosso organismo reage de forma instintiva (cérebro reptiliano), em lutar ou fugir do estímulo, com isso, reações hormonais ocorrem no sistema endócrino levando o organismo à sintomas, às vezes, desconfortáveis e que pode gerar um quadro de ansiedade. Esse quadro pode perdurar por dias, meses ou até mesmo de forma crônica. O uso de substâncias psicotrópicas também pode influenciar nesse quadro, como: álcool, drogas, cafeína, nicotina, entre outras. Alguns sintomas precedem esses quadros psicológicos, por exemplo, preocupação excessiva e dificuldade de controlá-la, fadiga, dificuldade de concentração, irritabilidade, insônia, tensão muscular e complicações gastrointestinais. Contudo, traumas psicológicos podem ocasionar alterações fisiológicas e comportamentais em indivíduos.
A depressão está associada a integração social e problemas financeiros, por exemplo, podendo surgir em fases precoces da vida, e ter quadros reincidentes ou até mesmo crônicos. Deste modo, comorbidades (doenças cardiovasculares e diabetes) podem ter maior probabilidade de afetar indivíduos em maior grau da psicopatologia. Os indivíduos depressivos têm uma redução fisiológica de até 15% na área hipocampal (responsável pela memória e emoções), reduzindo valores de neurônios, dentritos e da neurogênese (criação de novas células cerebrais), responsável pelo desenvolvimento da depressão. As características dessa patologia são tristeza, incapacidade de sentir prazer, sentimento de culpa, redução de energia, do sono, do apetite e da concentração, dores exacerbadas a partir de tensões musculares.
Os sistemas adrenais e límbicos, responsáveis por regular os níveis de cortisol e controle das emoções/comportamentos sociais respectivamente, aumentam a produção de cortisol no organismo alterando funções vitais para manutenção das emoções em relação aos estímulos que os indivíduos são expostos. Com isso, a diminuição de serotonina (humor e bem estar) nas sinapses, prejudicam o sistema cardiovascular, funções motoras, resposta imune, desenvolvimento ósseo e agregação plaquetária.
Então, como o exercício físico pode evitar/atenuar esses quadros psicológicos? Existe uma relação direta da redução do percentual de gordura e a massa corporal com concentrações plasmáticas de serotonina. Isso ocorre devido a lipólise, uma vez que aumentam a concentração plasmática de ácidos graxos livres, células de gordura utilizadas como energia em exercícios aeróbicos de média/longa duração. Essas células desprendem a albumina do triptofano, e consequentemente, estimula o aumento da quantidade de triptofano livre (Tr-1), responsável pela síntese da serotonina. Quando o músculo é exercitado, a substância concorrente do Tr-1, o aminoácido de cadeia ramificada (AACR), é reduzido na concentração plasmática ao ultrapassar a barreira hematoencefálica, aumentando a proporcionalidade entre o Tr-1/AACR. Desta forma, com maior nível central de triptofanos livres, os níveis de serotonina são ampliados, assim como a sensação de bem estar e bom humor.
Muitos estudos demonstram que exercícios aeróbicos e de força, individualizados e supervisionados de forma continuada por no mínimo de dez semanas com três sessões semanais de quarenta a sessenta minutos de duração, com intensidades de média para alta, aumentam a oxigenação do córtex cerebral, regulam o sistema adrenal e diminuem o cortisol. Além do mais, há um aumento do fator neurotrófico, derivado do cérebro (BDNF), responsável pela cognição do indivíduo, e a neurogênese, que faz com que diminua as citocinas pró-inflamatórias. Em vista disso, o exercício físico melhora a funcionalidade do corpo e evita doenças metabólicas que são responsáveis por agravar quadros depressivos.
Para concluir, atualmente, com a pandemia impedindo atividades profissionais e de lazer, aumenta o nível de estresse na população, isso gera um quadro de ansiedade e até depressivo. Com isso, o sedentarismo associado ao alto consumo calórico, de álcool, nicotina e até drogas agrava o estado psicológico. Nesse caso, doenças metabólicas e neurodegenerativas criam um cenário favorável para psicopatologias. Os sintomas produzidos por essa condição são nocivos ao organismo, isso torna o exercício físico um tratamento não farmacológico tão importante quanto outras terapias.
Sabe-se que essa terapia não farmacológica possui efeitos positivos em quadros psicopatológicos e fisiológicos. Os efeitos gerados pelo exercício físico de diminuição do percentual de gordura e massa corporal, de regular os níveis de cortisol, da criação de novas células cerebrais, do aumento nos níveis de serotonina, da melhora dos níveis glicêmico e de pressão arterial vão melhorar ou atenuar os sintomas das doenças psicopatológicas e metabólicas. O treinamento de força combinado com exercícios aeróbicos de média/longa duração demonstrou uma redução nos sintomas de ansiedade e depressão. Com isso, a prescrição do treinamento precisa ser individualizada e supervisionada por um profissional de educação física capacitado, sugerindo uma frequência de, em média, 3 vezes por semana, com duração entre 40 a 60 minutos, que trabalhe em intensidades de moderada a alta, tanto no treino resistido quanto no treino cardiovascular, levando em consideração a capacidade individual de cada cliente/aluno.
O melhor remédio é a prevenção, e o exercício físico é um excelente tratamento sem efeitos colaterais negativos, quando bem elaborado.

EXERCÍCIO FÍSICO E O DIABÉTICO

Olá pessoal! Na continuação dos nossos textos que tratam dos benefícios da prática regular de exercício físico sobre o combate a COVID-19, eu venho falar com vocês sobre  como o exercício físico bem orientado age no controle da diabetes, que é um importante problema de saúde pública no Brasil e nos últimos 10 anos teve um crescimento de 61,8%, segundo dados do Ministério da Saúde.  O desenvolvimento da doença é uma tendência mundial e já atinge 8,9% da população brasileira (um número assustador de aproximadamente 18,5 milhões de pessoas somente no Brasil). O diabetes lesiona e mata indiretamente por causa de cegueira, doença renal, cardiopatia, acidente vascular encefálico e doença vascular periférica.

Antes de explicar sobre como os benefícios gerados pela prática regular e bem orientada de exercícios físicos podem ser utilizados numa intervenção não farmacológica primária controlando os níveis glicêmicos, eu gostaria de explicar rapidamente sobre a doença. Diabetes é uma doença caracterizada por hiperglicemia (glicose sanguínea elevada), resultante da secreção inadequada de insulina (Tipo 1 – Diabetes Melitos Imuno Dependente), redução da ação da insulina (Tipo 2 – Diabetes Melitos Não Imuno Dependente) ou ambas.

O diabetes tipo 1 é a menos comum entre as duas, ocorre sobretudo em indivíduos jovens e está associada com uma desregulação do sistema imunológico que destrói as células do pâncreas responsáveis pela produção de insulina. Os sinais de alerta que surgem rapidamente, são: sudorese, urinação frequente, sede incomum, fome extrema, rápida perda de peso, fadiga, irritabilidade, náusea e vômito. Por isso, se o seu pequeno apresenta esses sinais, fique atento!

Já o diabetes tipo 2 representa cerca de 90-95% de todos os diabéticos, e os pacientes exibem diversos fatores de risco além do diabetes, como: hipertensão, colesterol alto, obesidade e inatividade. Normalmente, esse quadro se apresenta em indivíduos que abusam na ingestão de alimentos ricos em carboidratos simples (açúcar, doce, sorvete, refrigerante, etc), levando a um quadro de hiperglicemia. Consequentemente, o organismo também precisa elevar a produção de insulina na corrente sanguínea e, devido a esse excesso de insulina, o tecido cria uma espécie de “aversão” e fica resistente a ação desse hormônio. Muita atenção aos papais, pois apesar do diabete do tipo 2 ser mais comum em indivíduos com idade mais avançada, atualmente, devido ao elevado nível de sedentarismo, má alimentação, gerando consequentemente obesidade, algumas crianças já são diagnosticadas com essa doença.

Ok Igor, mas onde o exercício físico entra nessa conversa toda? O exercício aumenta a velocidade de remoção da glicose do sangue pelo músculo, em busca de energia para a contração. No entanto, eu preciso explicar o que ocorre durante o estado de repouso, na ausência do “estresse” físico. Após uma refeição rica em carboidrato, o nível de glicose na corrente sanguínea se eleva estimulando o sistema nervoso a enviar uma mensagem ao pâncreas para secretar a insulina. O hormônio em questão é responsável por fazer a sinalização a transportadores específicos nas células musculares, o GLUT-4 (guardem bem esse nome que ele voltará a ser falado). Esse transportador é o responsável por captar a glicose da corrente sanguínea e encaminhá-la para dentro das células musculares, que é o tecido onde boa parte desse combustível energético fica armazenado na forma de glicogênio muscular, restabelecendo os níveis normais de glicose na corrente sanguínea. Porém, o diabético do tipo 1 (caso esteja descompensado) e do tipo 2 não conseguem pegar essa glicose e fazer com que ela entre no tecido muscular para gerar energia, o primeiro pela desregulação do hormônio no organismo e o segundo pela resistência criada pelo tecido ao hormônio.

 Efeito agudo do exercício.

Durante a realização do exercício físico o corpo precisa de energia extra para realizar o trabalho muscular, e boa parte dessa energia é advinda da glicose sanguínea e do glicogênio muscular. Diversos hormônios (adrenalina, noradrenalina, cortisol, GH, glucagon, etc) aumentam a sua taxa de circulação afim de manter o metabolismo energético estável, no entanto, o nível de insulina diminui durante o exercício. Pensem comigo, se o nível de insulina durante a realização de um exercício físico também se elevasse, toda a glicose sanguínea seria levada para dentro das células musculares e faltaria em outros tecidos que são vitais para o bom funcionamento da máquina humana, principalmente o cérebro.

Uai Igor, não entendi! Se o nível de insulina diminui, então como a glicose entra para dentro da célula? Lembram do GLUT-4? A contração muscular (por meio do cálcio e do AMP) desempenhada no exercício é capaz de translocar os receptores GLUT-4 sem a necessidade da ação da insulina. Agora pensem vocês: para quem seria interessante captar mais glicose sem precisar de insulina? Bingo! Para o diabético. Esse é um efeito agudo poderosíssimo que o exercício físico desempenha em indivíduos com diabetes, sendo possível até que seja omitida a dose de insulina exógena antes da prática de exercício físico, pois o mesmo faria a função da insulina. Só não esqueça de procurar orientação com um profissional especialista no assunto.

Efeito Crônico do exercício

Além do benefício agudo, outros benefícios crônicos são gerados pelas adaptações fisiológicas ao treino regular em indivíduos com diabetes:

– Aumento da ação da insulina (seja ela endógena ou exógena).

– Aumento da captação da glicose pelo músculo através de 3 mecanismos: aumento da ação da insulina; aumento da expressão de glicotransportadores (GLUT 4 – Olha ele aí de novo); e aumento da sensibilidade à insulina, ou seja, as células deixam de ser resistentes a esse hormônio.

– Aumento da captação de glicose no período pós exercício para reposição dos estoques de glicogênio nas células musculares.

– Opa! Se a glicose está entrando no músculo, logo ela está saindo da corrente sanguínea.

Lembrando sempre a vocês que o exercício é apenas uma parte do tratamento (e prevenção), dieta é a outra parte não menos importante. Portanto, não deixe de consultar também um nutricionista para que você alcance um resultado mais efetivo e potencializado. Na BLISS, você encontrará uma equipe especializada e pronta para controlar esta patologia, com doses diárias de um santo remédio, o “treinolol”. E o melhor de tudo, esse remédio não possui contra-indicações.

EXERCÍCIO FÍSICO E O SISTEMA IMUNE

Olá queridos, continuando a nossa série de textos que tratam dos benefícios da prática regular de exercício físico no combate a COVID-19, hoje falaremos um pouco de como essa ferramenta pode ser utilizada para melhorar o nosso sistema imunológico, que é peça fundamental no combate a todos os tipos de doenças infecciosas. Vamos entender primeiro como o sistema imune funciona?

O sistema imune é um sistema homeostático essencial, que reconhece, ataca e destrói agentes estranhos presentes no corpo. Essa atuação sem dúvida é importante, pois o corpo é constantemente atacado por agentes estranhos (p. ex., bactérias, vírus e fungos) causadores de infecção. Ao proteger o corpo contra infecções, o sistema imune exerce papel fundamental na manutenção da homeostasia corporal. Como o exercício, entre outros estresses (p. ex., estresse emocional, insônia, etc.), comprovadamente influencia o sistema imune, é importante compreender a relação existente entre o exercício físico e o sistema imune.

O sistema imune humano é um sistema complexo redundante, destinado a nos proteger contra os patógenos invasores. Um sistema imune saudável requer o trabalho em conjunto de duas camadas de imunoproteção: o sistema imune inato e o sistema imune adquirido.

O sistema imune inato constitui a primeira linha de defesa contra os invasores estranhos e é composto por três componentes principais: (1) barreiras físicas, como a pele e as membranas mucosas que revestem nossos tratos respiratórias, digestivo e geniturinário; (2) células especializadas (p. ex. fagócitos, e células natural killer) projetadas para destruir invasores; e (3) um grupo de proteínas denominadas sistema completo, encontrado em todo o corpo e que confere proteção contra os invasores.

O sistema imune adquirido adapta-se para conferir proteção contra quase todo tipo de patógeno invasor. O propósito primário do sistema imune adquirido é conferir proteção contra vírus que o sistema imune inato é incapaz de proporcionar. As células B e T são as principais células envolvidas no sistema imune adquirido. As células B produzem anticorpos, enquanto as células T são especializadas no reconhecimento e na remoção dos antígenos do corpo.

Em comparação à maioria das áreas de pesquisa sobre fisiologia do exercício, a área de exercício e sistema imune é um tópico de estudo relativamente novo. Entretanto, o interesse pelo campo da imunologia do exercício tem crescido rapidamente ao longo das últimas década, e sem dúvidas, deve dar um boom com esse período de pandemia.

O conceito de que o exercício físico pode produzir efeitos tanto positivos quanto negativos sobre o risco de infecção existe há um pouco mais de duas décadas. Essa ideia foi introduzida pelo dr. David Nieman, ao descrever o risco de Infecção do Trato Respiratório Superior (ITRS) como uma curva em forma de “J” que mudava em função da intensidade e da quantidade de exercício realizado.

Observe que, na figura acima, as pessoas engajadas na prática regular de exercício moderado apresentam menor risco de ITRS, em comparação aos indivíduos sedentários e às pessoas envolvidas em prática de sessões de exercícios intenso e/ou prolongados. Então Igor, eu que costumo praticar exercícios mais vigorosos devo me preocupar? Relaxa, porquê nós vamos mergulhar um pouco melhor nesse assunto.

O exercício aeróbico moderado protege contra a infecção.  Muitos estudos sustentem o conceito de que as pessoas engajadas em séries regulares de exercício aeróbico moderado ficam menos resfriadas do que indivíduos sedentários e as pessoas engajadas na prática de exercícios de alta intensidade/longa duração. Por exemplo, estudos epidemiológicos e randomizados relatam de modo consistente que o exercício regular resulta em uma redução de18 a 67% do risco de ITRS (Glesson, 2007). De uma forma geral, parece que 20 a 40 minutos de exercício de intensidade moderada (40 a 60% do VO²máx) são adequados à promoção de um efeito benéfico sobre o sistema imune.

A explicação do motivo pelo qual o exercício de intensidade moderada confere proteção contra ITRS continua sendo um tópico de discussão, ainda mais agora. Não obstante, existem vários possíveis motivos para explicar por que o exercício diminui o risco de infecção. Primeiramente, cada série de exercício aeróbico moderado causa aumento das concentrações sanguíneas de células natural killer, neutrófilos e anticorpos. Dessa forma, séries regulares de exercícios proporciona um reforço positivo tanto para o sistema imune inato (células natural killer e neutrófilos) quanto ao sistema imune adquirido (anticorpos). Outros fatores possivelmente também contribuem para o impacto positivo da prática rotineira de exercícios sobre o risco diminuído de infecção. Por exemplo, as pessoas engajadas na prática de exercício regular também podem ser beneficiadas por uma sensação psicológica de bom estar intensificada (menos estresse emocional), bom estado nutricional e estilo de vida adequado (p. ex. sono adequado). Cada um desses fatores está associado ao risco diminuído de infecção e, portanto, também podem representar uma conexão entre o exercício regular e o menor risco de ITRS.

Mas Igor, você falou sobre o treino aeróbico, mas e o treino de resistência? Ainda não foi esclarecido se o treino de resistência confere o mesmo nível de proteção contra infecções. Isso ocorre porque poucos estudos investigaram sistematicamente o impacto do exercício de resistência sobre a função imunológica. No entanto, com base nas evidências disponíveis, parece que uma série intensa de exercícios de resistência produz um aumento transiente no número de células natural killer (Miles et. al., 2002). Em resumo, parece possível que séries regulares de exercícios de resistência confiram proteção contra infecções, mas pesquisas adicionais se fazem necessárias para estabelecer firmemente que o exercício de resistência isolado é eficaz em termos de proteção contra infecções.

O exercício aeróbio de alta intensidade/longa duração aumenta o risco de infecção. Mas calma aí você que gosta de treinar intenso, leia até o final. A ideia de que os atletas (eu falei ATLETASengajados em treinos intensos são mais suscetíveis às infecções é oriunda de relatos pouco confiáveis de técnicos e atletas. Exemplificando, o maratonista Alberto Salazar relatou que teve 12 resfriados nos 12 meses em que treinou para a maratona olímpica em 1984. Como Salazar estava engajado em um treinamento físico intenso, muitas pessoas concluíram que o alto nível de treinamento foi o responsável por esse número aumentado de resfriados. Entretanto, relatos pouco confiáveis não provam causa nem efeito, e por isso houve a necessidade de realizar estudos científicos para determinar se o treinamento físico intenso resultou em aumento do risco de infecção.

Em geral, muitos estudos (Gleeson, 2007; Nieman, 2007) sustentam o conceito de que os atletas engajados em treinamento de resistência intensivos apresentam maior incidência de ITRS, em comparação aos indivíduos sedentários ou àqueles que se engajam na prática regular de exercícios moderados. Na verdade, o risco de desenvolvimento de ITRS é duas a seis vezes maior em ATLETAS no período subsequente a uma maratona, em comparação ao observado na população em geral.

Existem diversos motivos pelos quais o exercício de alta intensidade e longa duração promove aumento do risco de infecção. Primeiro, o exercício prolongado (maior que 90 minutos) e intenso produz um efeito depressivo temporário sobre o sistema imune. Após uma maratona, por exemplo, a função imunológica sofre as seguintes alterações significativas:

– Concentração sanguíneas diminuídas de células B, células T e células natural killer;

– Diminuição da atividade das células natural killer e da função das células T;

– Diminuição da fagocitose nasal realizada por neutrófilos;

– Diminuição dos níveis nasais e salivares de IgA (imunoglobinas salivares);

– Aumento das citocinas pró e anti-inflamatórias.

            De forma coletiva, essas alterações resultam na depressão da capacidade do sistema imune de defender o corpo contra patógenos invasores. Argumenta-se que essa imunossupressão subsequente a uma maratona cria uma “janela aberta”, durante a qual os vírus e bactérias podem conseguir um ponto de apoio, e que aumenta o risco de infecção.

O motivo biológico que explica porque o exercício com alto volume/ intenso promove imunodisfunção provavelmente está relacionado com os efeitos imunossupressores dos hormônios do estresse, entre os quais se destaca o cortisol. O exercício extenuante resulta em aumentos significativos dos níveis circulantes de cortisol. Foi relatado que níveis altos de cortisol deprimem a função do sistema imune de vários modos (Gleeson, 2006). Exemplificando, níveis de cortisol elevados podem inibir a função de citocinas especificas, suprimir a função das células natural killer e deprimir tanto a produção como a função das células T (Nieman, 1997).

Embora o exercício extenuante possa inibir a função imunológica, existem outros fatores que também contribuem para o risco aumentado de infecção entre os atletas engajados em treinamentos intensivos. Esses atletas, por exemplo, também podem se expor a outros agentes potencialmente estressores, como falta de sono (opá Igor! Esse problema eu também tenho), estresse mental (quem aí está com a carga de trabalho maior nesse período de quarentena levanta a mão!), exposição aumentada a patógenos em consequência de grandes aglomerações de pessoas (evite aglomerações!!) e dieta inadequada à sustentação da saúde imunológica (quem aí não chutou o pau da barraca nesse período de quarentena?). Cada um desses fatores foi relatado como exercendo um impacto negativo sobre a função imune e, portanto, capaz de contribuir para incidência aumentada de infecção virais.

Por fim, um treinamento físico de alta intensidade e duração de algumas semanas resulta em um estado CRÔNICO de imunossupressão? A resposta é NÃO, uma vez que após uma série intensa de exercícios, o número e a função dos leucócitos retornam aos níveis pré-exercício em cerca de 3 a 24 horas, dependendo da intensidade do treino.

Mas Igor, você deu exemplos de atletas e eu não sou atleta. ÓTIMO! Então deixe de paranoia e siga o seu programa de treino normalmente. A maioria dos estudos que tratam sobre exercício físico e imunidade foram feitos com atletas, que possuem cargas de treinamento fora da realidade de um ser humano comum. Portanto, se você já era um indivíduo treinado, continue com a mesma intensidade do seu programa de treino. Caso você seja sedentário e queira ingressar num programa de exercício físico, o início do programa deve ser adaptado a sua condição física atual. Um bom profissional de Educação Física não irá te expor a treinos intensos no início de um planejamento. E como eu sei se um programa de treino é leve, moderado ou intenso? Aí você precisará da ajuda de uma equipe experiente e qualificada. Deixa a Bliss te ajudar a cuidar da sua saúde?

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