Olá pessoal, hoje nós finalizaremos o nosso assunto sobre como o exercício físico pode exercer um papel de destaque no combate a COVID-19. Relembrando o que já foi falado até o momento, foi feita uma relação sobre como o exercício físico pode reforçar o nosso sistema imune, prevenir e tratar doenças cardiovasculares como hipertensão e diabetes, além das doenças psicológicas, como a depressão e a ansiedade. Hoje é a vez da obesidade, talvez a grande desencadeadora de todos esses problemas.

A obesidade é uma doença caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal e normalmente está associada a problemas de saúde. Consequentemente, ela se constitui como fator de risco para aquisição de várias doenças crônicas degenerativas, dentre as quais podemos citar: câncer, hipertensão arterial, doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, entre outras. Existem diversas causas para o surgimento da obesidade, como: predisposição genética, má alimentação, alterações endócrinas e inatividade física.

Segundo o manual do American College of Sports Medicine (ACSM, 2011), o indivíduo é considerado com sobrepeso quando seu índice de massa corporal (IMC) se iguala ou excede os 25 kg/m². Já as classificações para o fator de risco de obesidade são IMC maior ou igual a 30 kg/m² ou circunferência abdominal > 102 cm para os homens e > 88 cm para as mulheres.

Conforme dados divulgados pelo Ministério da Saúde em 2018, um levantamento da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL), realizado entre os anos de 2006 a 2018, apontou que o número de brasileiros com obesidade cresceu 67,3% nesses últimos 13 anos, saindo de 11,8% em 2006 para 19,8% em 2018 (um número assustador de mais de 41 milhões de pessoas, somente aqui no Brasil). A Vigitel também registrou crescimento considerável de excesso de peso entre a população brasileira. No Brasil, mais da metade da população, 55,7% tem excesso de peso. Um aumento de 30,8% quando comparado com percentual de 42,6% no ano de 2006. Imaginem como devem estar esses números após quase 4 meses de quarentena? Dá até medo de imaginar.

A Obesidade é considerada uma doença universal de prevalência crescente, assumindo atualmente um caráter epidemiológico, como o principal problema de saúde pública na sociedade moderna. Hoje, admite-se que a mesma é uma inflamação sistêmica crônica de baixa intensidade e está associada a uma diversidade de doenças crônicas, além ser caracterizada por um aumento de duas ou três vezes na concentração de citocinas inflamatórias, como por exemplo: fator de necrose tumoral-alfa (TNF-α) e interleucina-6 (IL-6), além da proteína C reativa (CRP), que é uma famosa marcadora de processo inflamatório. Essas moléculas, agindo de modo combinado, interferem na ação da insulina (produzindo resistência à insulina) e isso é um aspecto associado ao diabetes de tipo 2, doença cardiovascular e síndrome metabólica.

Como fisiologista do exercício, posso lhes dizer que nós estudamos o modo como os tecidos e órgãos funcionam para manter a homeostasia, e tentamos descobrir a fonte de um problema quando a mesma é perdida. Um exemplo eficiente de falha em manter a homeostase é a hipertensão, um problema que afeta 24,7 % da população brasileira, segundo dados da vigitel. É interessante notar que, dificilmente a hipertensão ocorre de forma isolada. Não é incomum que um indivíduo hipertenso também apresente múltiplas anormalidades metabólicas, tais como: Obesidade (em especial a abdominal), resistência a insulina e dislipidemia (níveis anormais de triglicerídeos e outros lipídios).

O fato dessas anormalidades ocorrerem com frequência em grupo sugere a existência de uma causa subjacente comum, que talvez nos permita entender melhor os processos patológicos associados a hipertensão. A coexistência da resistência à insulina, dislipidemia e hipertensão foi denominada síndrome X, e aqueles que acrescentam a obesidade ao modelo a chamam de “quarteto mortal”. Entretanto, a denominação atualmente preferida é “síndrome metabólica”.

Existem diversas teorias tentando explicar possíveis conexões hipotéticas entre as anormalidades listadas. Vou tentar explicar de forma simples e didática sobre o modelo que eu mais acredito. O foco central recai sobre a obesidade, que por sua vez causa resistência à insulina (diabetes tipo 2). Em resposta a essa resistência, o pâncreas secreta mais insulina levando a uma condição de hiperinsulinemia. Os níveis aumentados de insulina podem:
– Aumentar a atividade do sistema nervoso simpático (SNS), causando elevação dos níveis de adrenalina (A) e noradrenalina (NA) que, por sua vez, podem aumentar a frequência cardíaca, o volume sistólico e a pressão arterial. Os níveis elevados de A e NA também podem interferir na liberação de insulina pelo pâncreas e na captação de glicose junto aos tecidos, agravando ainda mais o problema.
– Aumentar a retenção de sódio e água, com consequente aumento do volume plasmático e de pressão arterial;
– Intensificar a proliferação das células de músculo liso junto aos vasos sanguíneos, que pode acarretar o aumento da resistência ao fluxo sanguíneo trazendo problemas cardiovasculares.
Dessa forma, diversos estudos são desenvolvidos no âmbito da Educação Física com o objetivo de auxiliar na perda de peso da população obesa, uma vez que a prática regular de exercício físico auxilia no processo de emagrecimento corporal, na medida em que ajuda a determinar um balanço energético negativo, potencializando ainda mais os benefícios de uma dieta balanceada.

Não há dúvidas de que a participação regular em programa de exercício físico diminui o risco de desenvolvimento de muitas doenças crônicas. Com relação à inflamação sistêmica, as evidências em geral são positivas. Estudos longitudinais prospectivos mostram de modo convincente que níveis mais altos de atividade física e/ou condicionamento cardiorrespiratório estão associados a níveis mais baixos de inflamação sistêmica, que por sua vez, está associada a muitas doenças crônicas.

Portanto, a evidência nítida é a de que a prática regular de exercícios, o consumo de uma dieta saudável e a manutenção de um peso saudável são bastante significativos na prevenção dessas doenças crônicas. Lembrando sempre que essas ações são também as principais intervenções não farmacológicas empregadas no tratamento de indivíduos com doenças crônicas, logo, as mais saudáveis, não possuindo contraindicações.

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