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Dia: 19 de julho de 2018

DEPRESSÃO SEM PRESSÃO – Saber sobre a sua dor é o primeiro passo

Quem diria que o Brasil, país do futebol e carnaval, tem a maior taxa de pessoas com depressão na América Latina e uma média que supera os índices mundiais? Dados publicados pela OMS (Organização Mundial da Saúde) em fevereiro deste ano, aponta 322 milhões de pessoas no mundo sofrendo de depressão o que significa 18% a mais do que há 10 anos. No caso do Brasil, a OMS estima que 5,8% da população nacional seja afetada pela depressão*.

E porquê o país visto tão alegre e festivo não teria casos de depressão? Por acaso se vive em festa o tempo todo? E porque celebridades, gente jovem, bonita, realizada profissionalmente ou espiritualmente e evoluídas não seriam afetadas por esse transtorno?

É fácil quebrar paradigmas dessas questões quando, simplesmente lembramos que, em essência, somos HU-MA-NOS. E ainda, observar que vivemos numa sociedade que estimula a concorrência e onde parâmetros e métricas nos colocam em comparação, generalizadas, uns com os outros, apontando apenas o “melhor lado” da gente com um foco especial no que brilha em nós, ou seja, nossa luz. Seria isso mesmo? Então só há valor se somos “bons”? So haá valor se temos brilho? E isso é possível o tempo todo? Claaaro (trocadilho, rs) que não! Se luz acende, luz apaga.

No filme documentário “Efeito Sombra” do Dr. Deepak Chopra, conteúdos do psiquiatra suíço Jung do século XX**, traz a máxima dos seus estudos sobre o “aceitar a si mesmo” como forma de nos acolher a partir da inclusão do nosso oposto, ou seja, nossa sombra, essa muito mais presente quando a doença nos vem. Dessa perspectiva e entendimento, podemos nos enxergar mais inteiros como luz e sombra, não é mesmo? E somos perfeitos, “acesos” ou “apagados”. Essa é a beleza de SER HUMANO. Dessa forma, o ato de viver torna-se mais real, verdadeiro e pleno podendo nos ajudar a compreender os momentos da vida pelos quais passamos e ainda, potencializar um quadro de melhora da forma como lidamos com nossas doenças.

A doença, sejam ela física ou mental, coloca em cheque a vida que levamos e como a levamos. E nisso, nosso corpo é mestre comunicador. Essas questões da vida são de ordem tão complexa e, ao mesmo tempo, tão natural e presente que é trivial esbarrarmo-nos nas nossas sombras. A depressão, assim como qualquer outra doença, nos tira do fluxo do estado de bem viver e, sério, é importante sinalizar um “ok” pra isso. O nome disso é auto-acolhimento, ou seja, é a capacidade que desenvolvemos de olhar pra si, abraçar o que está acontecendo e, sem se perder em auto-julgamento, auto-rejeição ou negação do que está em evidência, buscar suporte necessário.

Digo isso pra não olharmos pra depressão de forma mais difícil do que é, ou ainda, uma vez acometido pela doença, não virmos somar outras doenças a ela com atitudes constantes de negação. Sem que possamos perceber, essa atitude, além de agravar, inviabiliza o tão almejado estado do ficar bem. Passei anos negando o mais natural em mim: menstruar! Uma vez mulher, dotada de órgãos genitais femininos, a menstruação é natural. Mas por não aceitar esse fato por anos entrei em quadros difíceis, por exemplo, de negar e rejeitar os sintomas como cólicas, vontade de comer, vontade de não comer, oscilação de humor, etc e vários outros sintomas naturais do ciclo menstrual. Sem falar nas formas de coibi-los fazendo uso regular de remédios, tais como anticoncepcionais e anti-inflamatórios, que com o tempo fora agregando outras doenças como enxaquecas (e outras) me levando a fazer uso de outras tantas medicações onde adentrei, sem perceber, num ciclo de adoecimento e uso de remédios constantes.

Depressão é natural da vida e, inclusive, saudável. Sim, saudável! Felicidade também é natural da vida e saudável, mas o tempo todo não tem nada de saudável nisso. Observe que ao longo de um dia podemos nos sentir deprimidos e felizes. E assim como não é saudável SÓ se sentir deprimido, da mesma forma não é saudável SÓ se sentir feliz. Falácias de uma sociedade doente acreditar que é preciso estar feliz o tempo todo…Por conta dessa crença, a tendência é que a OMS registre um aumento muito superior dos índices de depressão apontados no início desse artigo.

Sabemos o quanto a presença de algumas doenças (depressão, obesidade, câncer, etc) nos coloca em sentimentos de medo, culpa e, muitas vezes, vergonha, afinal publicações nas mídias sociais, por exemplo, raramente irão mostrar sobre o lado não feliz da vida. Ficar doente não é legal e ninguém gosta de falar disso, mas é preciso aceitar que faz parte, é da vida e tem função fundamental na permanência de se manter vivo.

Essa semana, em reflexão sobre isso com uma amiga terapeuta ela me disse que “é a dor que nos mantém vivo”. Eureka! É a dor e, no caso, a doença que nos move na direção da sobrevivência! Não se trata de um culto a dor, mas apenas de dar a ela seu devido espaço no existir das nossas vidas sem olhar pra isso como o fim de tudo. Por vezes, ela se trata de um convite para um novo começo.

Portanto, se algo dói, converse sobre sua dor. Dor física ou emocional. Não importa. Dor é dor. Depressão tem cura e olhar pra situação se auto-acolhendo aumenta muito as chances de superar o quadro depressivo. Depressão sem pressão. Com permissão. Com auto-acolhimento e auto-amor.

*Fonte: Estadão. Caderno Saúde. http://saude.estadao.com.br/noticias/geral,brasil-e-o-pais-que-mais-sofre-com-depressao-na-america-latina,70001676638

**Psiquiatra e psicoterapeuta suíço do século XX que desenvolveu os conceitos de arquétipos e inconsciente coletivo.